É Proibido Viver! (2ª Parte)
Maria caminhou vagarosamente pelo pátio carregando duas grandes malas, fotografando tudo com os olhos. Ela era apaixonada pela profissão de professora e desde que começou a lecionar, Maria entregava-se de corpo e alma ao trabalho. Aprendeu a amar profundamente o instituto e as crianças e ter que ir embora deixava seu coração em frangalhos. Como uma pessoa que não a conhecia e nem conhecia as crianças chegava ali aterrorizando a todos e com tamanha crueldade achando-se no direito de cortar as asas de seus sonhos? Os olhos não conseguiram mais segurar as lágrimas insistentes, tudo aquilo era muito doloroso e mesmo que ela tentasse segurar, a dor era mais forte que ela.
Lúcio andou até Maria, balançando no ar uma folha de papel dobrada, com aquele sorriso que todos sabiam que era carregado de maldade. Os alunos saíram das salas de aula e se aglomeraram no pátio para se despedirem da professora tão querida por todos. Alguns perderam o medo que a presença do diretor impunha e correram até a professora e lhe ofertaram flores e abraços. Lúcio entregou a folha de papel para Maria.
- Por favor... - implorou a professora, sem a intenção de se humilhar, pensando no bem estar e nas necessidades das crianças.
- Você me desafiou minha cara! - disse Lúcio com um carinho falso - Todos precisam saber que no Instituto Sagesse* eu sou a lei. Eu não suporto atitudes subversivas. Adeusinho minha querida professora.
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Três meses depois, o Instituto Sagesse ficou do jeito que o diretor Lúcio desejava. O mural estava cheio de memorandos com as novas regras e os castigos eram constantes. Nada ali lembrava mais a administração da adorável antiga diretora Melânia, a começar pela sala da direção. No tempo dela a sala era pintada com uma tinta rosa bem clarinha, com vários quadros de paisagens nas paredes e vasos de flores nos cantos, na nova gestão os quadros foram removidos, os vasos foram substituídos por grandes e feias estátuas de corujas. Aliás Lúcio venerava as corujas, talvez por ter os olhos e a cara parecidos com uma. Atrás da cadeira do diretor um enorme quadro com a imagem dele acariciando uma dessas aves pousada no braço direito. Era até um tanto assustador ver tantas corujas espalhadas pelo cômodo. Sua coleção era tão grande que a prateleira de livros foi esvaziada para acomodar as corujinhas de vários tamanhos e cores, de plástico, madeira, vidro, porcelana e até mesmo de resina compradas em lojas de suvenires. Era a realização de um sonho de menino, desde que ganhou a primeira corujinha de gesso aos nove anos, que o emprego no instituto possibilitou realizar. Da antiga diretora ficou somente uma vitrola em um canto da sala.
Lúcio também havia ganhado um apelido, tanto pelos alunos quanto pelos professores, que pelas costas do diretor o chamavam de "Senhor Proibido", convenhamos que haviam mais apelidos um tanto agressivos como "Coruja do Mal", "Sapo Cururu", entre outros mais pesados, no entanto o mais usado era "Senhor Proibido", devido a grande mania de proibições que ele tinha. Sempre que o diretor era visto caminhando pelo instituto enquanto anotava em um caderninho de capa preta, logo em seguida aparecia no mural um novo memorando com novas proibições. Suas regras sempre começavam com a seguinte inscrição "É proibido...", procurando eliminar qualquer sinal de felicidade ou prazer daqueles que viviam no instituto.
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Os memorandos fixados no mural por taxinhas com as "Leis Excelentíssimas do Instituto Sagesse", como o próprio diretor Lúcio nomeou as regras, seguiam na seguinte ordem:
"É proibido o cultivo e a difusão de flores no Instituto Sagesse. Qualquer espécie encontrada dentro da instituição será cortada e os responsáveis serão devidamente punidos" . Todo o jardim do Instituto deixou de existir. Gostar de flores é de uma sensibilidade indescritível, dificilmente uma pessoa que não aprecia a beleza efêmera e delicada das flores é uma boa pessoa, as flores muitas vezes consegue até revelar o caráter de alguns.
"É proibido cantar, assim como cantarolar ou até mesmo assoviar, isso vale até mesmo para os pássaros. A avezinha que for vista cantarolando no pátio do Instituto Sagesse será abatida e servida como comida a Claudius, minha coruja de estimação." Acabaram-se as aulas de música, professora Lindalva, que ensinava a nobre arte musical, foi destituída do cargo e substituiu a professora Maria no ensino da gramática e literatura. Mais triste que uma casa sem sorrisos, é uma casa sem música. Tudo fica vazio e frio.
"É proibido qualquer sinal de amizade, já que ela não existe. Os alunos que forem pegos em grupos de duas ou mais crianças, serão interrogados e castigados por subversão". Somente a mais amarga das pessoas afirmaria que amizade não existe e viveria na escuridão que uma vida sem amizades propicia, pois quem encontrou um amigo encontrou a luz para não caminhar sozinho pelo mundo, pois amigos são como candieiros que iluminam a estrada do coração. Esta regra surgiu depois que alguns alunos se rebelaram com o diretor escondendo uma galinha morta dentro do guarda-roupa de Lúcio, que ao passar de alguns dias apodreceu entre as roupas, o odor insuportável fez com que ele jogasse todas as suas vestimentas fora. Ele nunca descobriu quais foram os responsáveis pela travessura, por isso decidiu proibir qualquer formação de grupos na instituição para liquidar qualquer união que pudesse planejar retalhação aos seus métodos sádicos.
"É proibido qualquer festividade que não seja o aniversário do diretor, somente neste dia será servido doces e se poderá ouvir músicas no Instituto Sagesse. No entanto deverá ser preservado a seriedade da instituição, onde sorrisos mais largos serão considerados maliciosos e o autor será retirado da comemoração". A vaidade de se achar superior a tudo e a todos é uma das características marcantes de todo ditador. Hitler fazia com que toda a Alemanha celebrasse com festa e fogueiras o seu aniversário. Talvez ele tenha conhecido Lúcio em uma viagem que o diretor fez a Alemanha em 1934.
E as proibições disparatadas continuavam pelo mural a fora, "É proibido sorrir..." ,"É proibido comer doces..." , "É proibido conversas paralelas...", "É proibido admirar o pôr-do-sol...", "É proibido ler quadrinhos...", e a lista de proibições, primeiramente anotadas no famoso caderninho de capa preta e depois expostas, pareciam não ter mais fim.
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Existe um velho ditado que diz: "Bata em um cachorro por muito tempo e ele lhe morderá", agrida de forma verbal ou física uma pessoa que você acredita ser inferior a você e ela revidará (embora ninguém é superior ou inferior a ninguém). Era o ano de 1939, já fazia sete anos em que Lúcio havia assumido a direção do Instituto Sagesse e espalhado o pânico àquelas crianças, embora algumas já não eram tão crianças assim, como Aurélio, o primeiro a experimentar um dos castigos que o diretor trouxe para o internato, agora era um adolescente que estava em seu último ano na instituição e ele acreditava que era hora de Lúcio receber um pouco do próprio veneno.
Como não podiam se reunir em locais públicos da escola como o pátio para não serem pegos, as reuniões aconteciam paralelamente nos dormitórios masculinos e femininos. Luísa, uma garota sardenta que tinha a mesma idade de Aurélio, liderava as adolescentes do seu dormitório, enquanto Aurélio liderava os rapazes. O dormitório infantil masculino ficou a cargo de Rafael, um garotinho negro, cuja a inteligência estava a frente de seu tempo, e o feminino infantil era de Amanda, uma menina de cabelos castanhos que usava óculos fundo de garrafa além de ser mestre em persuasão. Os líderes dos grupos se comunicavam através de bilhetinhos e todos os alunos, cansados de tantas proibições e castigos se aliaram no grande plano de vingança.
Segundo Aurélio o plano seria executado no dia do aniversário do diretor que seria no próximo mês. A primeira missão foi invadir o dispensa do instituto na madrugada e conseguir os itens da seguinte lista: 1) um rojão; 2) tintas a base de água de diversas cores; 3) um balde; e 4) bexigas de festa. A segunda missão foi invadir a cozinha e roubar uma das velas que seriam colocadas sobre o bolo de aniversário. Esta talvez teria sido a tarefa mais difícil, se não existisse Rodolfo, um aluno gordinho que assaltava a cozinha todas as noites a procura de comida e conhecia cada palmo do lugar. Com todos os itens roubados bem escondidos debaixo das camas nos dormitórios era só esperar o dia da festa e executar tudo nos mínimos detalhes.
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Eis que chegou o grande dia. Enquanto alguns alunos e os professores organizavam as mesas e as cadeiras no pátio do instituto, as cozinheiras corriam de um lado para o outro para prepararem toda a comida e terminar o grande bolo. Aurélio, Luísa, Rafael e Amanda, conseguiram sair sem serem percebidos, enquanto os outros alunos davam cobertura. Reunidos em um só dormitório Amanda e Luísa foram para o banheiro e ali elas dissolveram a tinta na água e encheram as bexigas de festa, que depois de amarradas eram colocadas no balde. Fizeram isso até acabarem as bexigas e as diversas cores de tinta. Aurélio e Rafael retiraram a bomba do rojão e a grudaram em um barbante com fita adesiva, barbante este, que substituiu o pavio da vela, deixando a bomba protegida e ligada diretamente a ela. Em seguida revolveram o explosivo com fita adesiva para a umidade do bolo não atrapalhar o grande plano. Estava tudo pronto. Na hora certa, Rodolfo entraria na cozinha e colocaria o artefato no bolo enquanto os outros alunos, discretamente pegaria sua bexiga cheia de água e tinta no balde escondido debaixo da mesa em que Luísa estivesse sentada.
Na grande vitrola foi colocado para tocar um disco de Harold Arlen, já que era o único dia em que se podia ouvir música no Instituto Sagesse, e este era o único cantor que Lúcio gostava, o que era uma grande ironia. O diretor entrou no pátio como sempre usando um terno novo todo branco com uma gravata borboleta vermelha e abotoaduras em forma de duas corujinhas de ouro. Em uma das mãos segurava uma corrente fina e um pouco comprida amarrada em uma pequena argolinha presa na pata direita da sua coruja de estimação chamada Claudius. Depois de colocar Claudius em um poleiro feito especialmente para ele, Lúcio bateu as mãos três vezes e disse:
- Que comecem as festividades do meu natalício!
Enquanto alguns empurravam o carrinho com o grande bolo para perto da mesa de comida e bebidas, bexigas eram passadas de mão em mão por debaixo das mesas. Rodolfo fez um sinal discreto com o dedo para Aurélio, avisando que a havia conseguido colocar a vela no bolo. O mais rápido possível Aurélio iniciou um telefone sem fio cochichando "Ao sinal do bolo, bexigas voarão! Passe adiante..." informando a cada um o momento certo para o gran finale do plano.
Lúcio desfilava de um lado para o outro com um sorriso largo, já que os sorrisos largos eram proibidos para os outros, era como se ele se sentisse único no mundo. Como costume ele distribuiu a todos chaveiros baratos com pingente de coruja, em seguida caminhou até um púlpito colocado ali no pátio especialmente para o discurso anual do diretor. E mais uma vez ele discursou sobre a sua grandeza e de como ele transformou o Instituto Sagesse é uma das instituições mais sérias do país, colocando fim a subversão e defendendo com garra a "moral" e os "bons costumes".
- E agora que cantemos juntos a música de parabéns para mim. - disse Lúcio finalizando o discurso - Porque se tem alguém no Instituto Sagesse que merece todo o PA-RA-BÉNS do mundo, este alguém sou eu!
Enquanto Lúcio andava do púlpito até o grande bolo de aniversário coberto com glacê branco, a cozinheira acendia as velinhas com as mãos trêmulas. Depois de acesas iniciaram a música acompanhada por palmas. Agora eram os alunos que sorriam com uma certa malicia se deliciando da vingança. Após a música Lúcio aproximou o rosto do bolo para soprar as velas e o inesperado por ele aconteceu. O pavio da velinha falsa queimou mais rápido alcançando a pólvora do explosivo retirado do rojão, fazendo com que o bolo virasse uma grande bomba e explodisse em pedaços para todos os lados, sujando o diretor da cabeça aos pés. Todos ficaram em silêncio enquanto Lúcio inchava igual a um baiacu e bufava, primeiramente ficando amarelo, depois verde e por fim vermelho de raiva.
- AGORA - gritou Aurélio, quebrando o silêncio.
Milhares de bexigas voaram pelo ar de vários lados acertando o diretor e estourando em seu terno branco, que antes estava sujo de bolo, passava a ter várias cores devido a tinta misturada a água. O que se passou depois do ataque das bexigas foi um verdadeiro pandemônio. Lúcio corria atrás dos alunos assim como um animal persegue a presa, enquanto os eles faziam guerra de comida e corriam para todos os lados. Os professores assutados, se jogaram para debaixo da mesa procurando se protegerem do verdadeiro campo de guerra que o pátio havia se tornado. Um dos alunos mais travessos, arrancou o mural com os memorandos e correu até o centro do local onde estava instaurada a bagunça e acendeu uma fogueira queimando todas as regras.
Ao ver as "Leis Excelentíssimas do Instituto Sagesse" em chamas, Lúcio soltou os alunos que segurava e agarrou o garoto que havia acendido a fogueira com suas regras e o deitou em seu colo dando-lhe uma surra de palmadas. No entanto o inferno do diretor estava só começando. Em pleno ato de maldade alguns pais chegaram no instituto flagrando Lúcio em ação, sem conseguir acreditar no que viam.
- Vocês estão assustados com estas palmadas? - disse Luísa a um dos país - Este castigo é o menor de todos.
Aurélio havia pensado em tudo. Conhecendo o diretor, ele sabia que depois que o plano fosse colocado em ação, ele não ficaria quieto e colocaria toda a sua fúria para fora. Como os pais jamais acreditariam nas formas de castigo que Lúcio aplicava com os alunos contando a eles, era preciso que viessem ali e vissem com os próprios olhos. Isso fez o garoto pedir aos colegas que escrevessem a seus pais convidando-os em nome do diretor para a grande festa de aniversário, alterando o horário para que chegassem no momento exato.
*****
- O senhor está demitido. - disse o dono do instituto ao entregar a carta de demissão a Lúcio, três dias depois do ocorrido.
- O senhor não pode fazer isso. - retrucou Lúcio - O Instituto é minha vida!
- Não só posso como devo. Francamente senhor Lúcio, pendurar crianças em árvores, usar palmatórias, agredir verbalmente os alunos. Existem escolas que usam a palmatória, mas isso foi uma ferramenta que nunca admiti em meu instituto. Isso é coisa de bárbaros. Dona Melânia, antes de morrer havia provado que uma educação fundamentada no amor, no respeito e na amizade é muito mas eficaz que o uso da violência.
- Eu posso explicar, senhor...
- Nem mais uma palavra. Os alunos viajam amanhã de férias e o senhor irá arrumar as suas coisas e sairá do meu instituto. O meu escritório choveu de cartas de pais querendo processar este lugar que foi erguido com tanto trabalho e dedicação.
- Mas eu pensei que...
- Não pensou! Se tem uma coisa que o senhor não fez aqui foi pensar, pois se tivesse refletido não teria cometido estas atrocidades. O senhor vai embora daqui, eu já tenho até uma substituta para o seu lugar.
- Como assim, uma substituta?
- Qual parte da frase "está demitido" o senhor não entendeu? A senhorita Maria que o senhor demitiu do Instituto Sagesse no passado, foi diretora de uma escola na cidade e ela transformou a instituição em que trabalhava em modelo de educação, educando os alunos com os mesmos princípios da falecida diretora Melânia. Ela é a pessoa ideal para levantar a moral do Instituto Sagesse e restaurar os ânimos dos alunos. E isso é só, acho melhor o senhor ir arrumar suas coisas, já que com tanta tralha levarás um bom tempo para encaixotar tudo.
*****
Depois de guardar em malões seus pertences que estavam no quarto do diretor, Lúcio foi até a sala da direção recolher suas corujas, seu quadro e alguns livros. Ele olhou para vitrola que ficava em um canto e ao lado dela o disco de Harold Arlen, que ele pegou e colocou para rodar. A canção Over the Rainbow soou pela sala. Lúcio começou a chorar. Sua vida estava completamente arruinada, depois do que aconteceu, ele não arrumaria mais nenhum trabalho como professor. O desespero começou a fazer seu coração palpitar. Durante os sete anos de instituto ele juntou algum dinheiro, mas sem trabalho não duraria muito tempo. O desespero transformou-se em raiva e ele empurrou a prateleira cheia de corujas de encontro ao chão. As lágrimas voltaram a brotar e ele sentou no chão, pensou em Maria que ele expulsou dali e dentro de alguns dias iria voltar como diretora. "Será que realmente a vida cobra da gente tudo de ruim que fazemos?" pensou ele "Minha mãe dizia que avida era dividida em três etapas, a de semear, a de cultivar e a de colher. Eu achava tudo isso uma besteira, até chegar o meu tempo de colher o que plantei".
O sol começava a se pôr entre os montes, colorindo o céu de um laranjado intenso. Lúcio olhou sobre a mesa e viu seu caderninho da capa preto aberto. Nele estavam anotadas todas a regras que durante sete anos ele elaborou e se fez cumprir com eficácia. Ele foleou o objeto até parar em uma página quase toda em branco, exceto por uma frase escrita a lápis. Era uma nova regra. Ele não lembrava de ter escrito aquilo, mas como tudo que estava escrito ali tinha que ser cumprido, pois se tornava lei, ele iria cumprir.
- "É proibido viver..." - leu em voz alta.
Ele olhou pela janela e viu a velha azinheira seca ao longe, iluminada pelos últimos raios do sol. Depois Lúcio foi até a vitrola, voltou a mesma música e aumentou o volume do toca discos no máximo a saiu do Instituto. Andou em direção a velha e morta árvore.
- É proibido viver... - dizia ele baixinho enquanto caminhava - ...se você torna a sua vida miserável, é proibido viver se você esquece o que é o amor, é proibido viver sem amigos, é proibido viver sem sorrir, é proibido viver amargurado e amargurando a vida dos outros, é proibido viver sem sonhos, é proibido viver sem música, é proibido viver sem as flores, é proibido viver como eu vivi.
Da azinheira ainda era possível ouvir bem baixinho a música que personificava a esperança e que falava de um ideal onde o mundo era construído com mais amor e alegria. A canção que falava que o céu se abriria e os problemas se derreteriam como gotas de limão. A melodia que era tudo o que ele poderia ter sido e não foi.
Aos pés da árvore tinha um banquinho de madeira e em um galho alto estava amarrada um corda formando uma forca. Lúcio subiu no banquinho e colocou a cabeça dentro do laço formado pela corda e sorriu tristemente, sem nenhuma maldade. Era o seu primeiro sorriso sincero. Depois o ex-diretor do Instituto Sagesse respirou fundo e pulou do banquinho. A música deixou de tocar no mesmo momento em que a respiração Lúcio parou. Ele já estava morto há muitos anos, e embora houvesse possibilidades de ressurreição, ele não enxergou nenhuma porque lhe faltava a esperança.
FIM
Ricardo Rodrigues
"Este conto é uma história de ficção embora seja inspirado em uma pessoa real. Claro que quem me inspirou a escrever esta história não pendurava ninguém de ponta cabeça em árvores, porém o original conseguia ser deploravelmente pior."
* Sagesse: É uma palavra francesa que traduzida para o português literalmente significa "Sabedoria".
Ilustração: Imagem da Internet
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