Covardia

13:09 Ricardo Rodrigues 0 Comments


- Você me ama?
- Sim! Já disse que te amo.
- De verdade? 
- Claro que é de verdade! Meus sentimentos em relação a você são sinceros.
- Acho que você não está falando a verdade.
- Diacho! O que eu preciso fazer pra você acreditar que eu te amo? Vem cá e me dá um beijo e deixe essa conversa besta pra lá.
- Viu só! Você acha que é besteira minha insegurança.
- Não é isso. Você que me tira do sério com essas perguntas, mesmo sabendo que eu te amo.
- Mas se você me ama como diz, faça o favor de explicar o motivo pelo qual aquela sirigaita não sai de sua casa e fica dando em cima de você descaradamente.
- Você sabe que meus pais são loucos para que eu assuma um compromisso com ela.
- Seus pais não gostam de mim!
- Gostam sim. Só não aceitariam nosso relacionamento.

Silêncio profundo.

- Vítor, você me ama mesmo?
- Vai começar de novo com esta história? Já disse que te amo.
- Então prova...
- Provar?
- Sim! Prove que me ama.
- Como vou provar que te amo? Minha palavra não vale nada?
- Vale. Mas sua palavra não é o suficiente.
- O que você quer que eu faça?
- Assuma o nosso relacionamento para sua família e para todas as outras pessoas que conhecemos.
- Isso é impossível. Seria um escândalo. Meu sonho de ser pastor na igreja iria por água abaixo.
- Viu só! Você não me ama. Você ama a sua religião e este seu sonho idiota de ser pastor.

Mais uma vez o silêncio predomina.

- Vítor, no fundo eu sempre soube que você não me ama.
- Como eu não te amo? Só o fato de estarmos juntos mesmo sendo pecado, já é uma prova imensa de amor. Mas isso aí de assumir eu não assumo não. Se me quiser é desse jeito. Sem que os outros saibam. Sempre ficamos juntos em segredo e fomos felizes. Que necessidade os outros tem de saber? Para nos julgar? 
- Então eu sou isso para você? Um pecado que não pode vir à tona?
- É você que está dizendo isso.

O silêncio encontra espaço nas palavras para uma reflexão.

- Vítor?!
- O que é?
- Vista a sua roupa e vai embora. Case com a sirigaita que seus pais apoiam e vai ser o pastor ungido que a sua igreja precisa.
- Não faça isso. Eu já disse que te amo.
- Eu não quero esse seu amor covarde. Ande! Vista-se e desapareça. Eu não posso dormir com alguém que me veja como uma perdição. Vai se esconder na vidinha de merda que você escolheu.
- Mais você sempre soube que tinha que ser assim. Que mesmo te amando seria impossível ficarmos juntos. Que palhaçada é esta agora?
- Não quero ouvir mais nenhuma palavra.
- Gregório...
- Adeus Vítor. 

Ricardo Rodrigues

Este conto é o primeiro da série "Diálogos Absurdos".

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